capitulo 1





É sempre exatamente o que penso. Vão-se passando o tempo, as horas, os dias, as semanas, os meses, e o tédio, o monumental, o cavernoso, ora diminui, ora aumenta e a gente passa a inventar formas de defesa até que elas se tornem inválidas e aí passamos a invariavelmente adulterar a loucura das horas im-passantes, sucumbi-las com a força da própria escravidão, mas eu não posso ao mesmo tempo sacrificar-me, saltar as minhas possibilidades psíquicas e até mesmo físicas pra tentar retomar algo tão perto e tão longe, uma coisa ociosa, uma trágica maneira de desvanecer o espírito, comover-se com o incomovível, e consolar-se com o inconsolável, versejar versos sem nexo e trazer na retina pálida a transpiração exausta do tempo enorme que se eleva inumano sobre mim e sobre minha cabeça; mas também podemos nos salvar com a música dele até o momento em que a lucidez se ampara no espaço e no tempo. É monótona a vida sem amigos... é bom saber que os tenho até em demasia, ainda que amigo nunca seja excesso; tenho a enorme felicidade de admitir que na atual conjuntura mundial, onde os teres invadem com armas as cidades e os seres são sucumbidos numa fúria felina, sou um felizardo no que se refere a amigos... tenho-os aos montes e de todas as espécies: dos mais safados aos mais ingênuos, dos mais ricos aos mais pobres, dos mais impetuosos aos mais burocráticos, dos mais delirantes aos mais repousados, dos mais chatos aos embriagantes... amigos de toda natureza. Graças à Força... está aí algo de que jamais poderei reclamar, algo contra o qual jamais praguejarei!!! Pois bem!... mas, andando mais um pouco, não sei se por estar distante e nunca mais ter dado um belo sorriso, uma bela gargalhada, é como se eu estivesse perdido no espaço, é como se houvesse perdido o compasso, a ligação com a essencialidade da vida que a mim me foi destinada, como se minha história tivesse sofrido uma interferência irreversível e agora, como um aborígine, vagasse pelo mundo sem encontrar a raiz da questão... mas esqueçamos, que quanto mais a gente fala mais cresce o complexo da demência na loucura e a loucura, a loucura... essa santa canonizada pelo mistério e redentora das atitudes impensadas e impensáveis...

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