capítulo 6



O outro foi Dernival. Este eu conheci na festa de aniversário de quinze anos do cachorro do meu primo Wênio. Um vagabundo daquele, bom de pegar no cabo da enxada, comemorando festinha de quinze anos. Eu tô ficando é besta mesmo. Dernival tava lá no canto, passando a mão no dentiqueiro e espiando a bagunça. Astuciando. Nesta noite, por preguiça, resolvi ficar por ali mesmo, nas Bateias. Por falta de espaço na casa de meu primo, tive o confortável convite de Dé para dormir em sua casa. Nesta noite floriu este romance lindo que até hoje perdura com a mesma força de antes. Só foi abalado uma vez esse romance. Mas esquece!! Certa noite, frio comendo o rabo de nego, fomos no “Escorrega-lá-vai-um”. Lá, como era de se esperar, dando vez à sua preferência, se alojou no cangote seboso de uma mulata senhora, ou uma senhora mulata, coroa, seus quarenta anos, fornida e festeira e pôs-se a tomar cerveja e cerveja e mais cerveja com esta dona. Eu, desassociado de suas predestinações filósofo-mulherenga, estranho aos movimentos alcoólicos da vida, mantive-me alheio ao seu devaneio e ao dela, a mulata. Lá pelas tantas, altas horas, o frio engenhando o estômago, invadindo já alma, implorei no ouvido dele:
_Dé, vamos embora, bicho. Larga essa morena aí e vamos nessa.
_Rapaz, você é doido? Uma lapa duma negona dessa, arrumada, cheia da nota, eu vou largar aí, cê é doido?! Olha o diferencial dessa mulher, Fabinho. Olha a caixa de marcha desse bicho. Isso não é brincadeira, não. Olha o fecho de mola!! Rapaz!!
_Bom, é o seguinte, eu vou descendo a ladeira, então. Vê se se arranja com essa coroa e eu vou andando por aí, devagarinho. - e foi aí que Dé soltou essa maravilha de proeza catingueira:
_Rapaz, quem tem medo de cagar não come!!
Na verdade, nem um vale nada! Nem Alexandre, nem Maurício, nem Dernival, nem o safado do Alberto. Nem eu valho nada. O caso é esse mesmo, mas nós entramos numa empreita que não foi brincadeira, não. Esta é a história deste livro. A vagabundagem.
Antes, porém, deixo fluir a aura da boaventurança e dos bons rituais aos olhos da majestosa côrte que me lê. Não me afaguem. Apedreja esta mão vil que te beija.

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